quarta-feira, 9 de maio de 2012

Do amargor

   Dói? Claro que dói. Dói muito e dói diariamente. Se vale a pena, eu não sei. Sou muito novo ainda - dizem - pra saber. Dói ser sensível às necessidades alheias, dói estar disponível, dói mostrar como me sinto e dói muito que os outros não se importem com isso.
   Vivia trancado dentro de mim mesmo, engolindo sapos e culpando Deus por ter me feito assim. Ser excessivamente romântico nunca me foi uma qualidade. Pelo contrário, é um fardo. E ter abandonado a minha crença espiritual piorou tudo.
   O mundo moderno não está de acordo com a minha maneira de ser e eu me julgava errado, portanto mudei. Deixei de demonstrar, até mesmo de sentir. Para me adequar à sociedade insensível, tornei-me uma rocha. Eu me tornei o tronco forte e firme de uma árvore: grave, resistente e duro. Em qualquer tempestade, quebrei. Vi que, por mais altivo que possa parecer, uma árvore quebra. Antes, porém, eu era um graveto: fraco, leve. Sensível. Quando as tempestades apareciam, eu dobrava... mas não quebrava.
   A minha religião - a qual fora abandonada - era tudo o que eu tinha de sentido em meio à treva da rotina. A Umbanda me ensinava a aceitação e a caridade. Dizia que eu deveria amar sem esperar ser amado. Amar... que estranho. Eu também deixei de acreditar em amor. Deixei de acreditar em tantas coisas, porque não me pareciam ruins o bastante para serem merecidas por mim. Não acredito em Deus, porque me faltou. Não acredito em amor, porque não me é diário. Não acredito em mim.
   Depois de ter deixado todas as coisas mais valiosas dessa jornada de lado, senti falta. Senti falta de mim. Deixar de me abrir não teve o resultado esperado. Deixar de frequentar a minha religião não me fez acreditar mais em mim e menos em Deus. Deixar de crer em Deus não me fez mais inteligente.
   Eu era um romântico solitário, que tinha fé em Deus, no Amor e nas Pessoas. Quando abandonei tudo... Tornei-me um homem frio, mas ainda solitário. Se a vida não está boa, mude alguma coisa - dizem. Mas não funciona sempre. Ser sozinho é algo com o que devo me acostumar. Pelo menos até encontrar outra pessoa sozinha.
   Enfim, só queria dizer que desisti de vestir uma máscara! Sim, Deus pode não existir; o amor verdadeiro pode não existir... Mas sonhar não custa nada.